A angústia psicológica pode bater-nos à porta em algum momento da vida, tal como a depressão.
Talvez pertença à metade das pessoas cujo sofrimento emocional tenha aumentado durante o confinamento pandémico, trazendo consigo uma redução do otimismo e da confiança1. Ou talvez esta situação o tenha levado a sentir pouco interesse ou prazer em fazer as coisas, deixando-o deprimido ou sem esperança. Pode até ter sentido alguma tristeza ou ansiedade2, ou ainda a sentir. No entanto, esta sintomatologia depressiva, geralmente temporária, não deve ser confundida com depressão.
Quando procurar ajuda médica?
Quando é que se deve preocupar, quando é que esses sentimentos de desânimo, apatia e tristeza, ou sintomas como insónia, falta de concentração ou dor podem mascarar uma depressão, e quando é que deve consultar um médico?
Os especialistas em saúde mental recomendam que o faça sempre que:
- I. As emoções consideradas normais – tristeza, medo, culpa, stress, ansiedade, etc. – modifiquem a vida quotidiana. O stress e a ansiedade são duas reações normais. No entanto, mantidas ao longo do tempo e com grande intensidade, podem conduzir a uma perturbação ansiosa ou depressiva que impede as pessoas de funcionarem como antes.
- II. Além disso, se considera que o ambiente normal em que vive é ameaçador ou se é muito sensível aos acontecimentos stressantes que o rodeiam, gerando mal-estar e preocupação excessiva, será também a altura de procurar ajuda profissional.
- III. Quando apresenta estes sintomas:
- Mudanças de humor acentuadas, com tendência para o choro e o mal-estar injustificado
- Perda de interesse por atividades que antes o entusiasmavam e de que gostava
- Perturbações do sono, quer seja dificuldade em dormir ou sonolência excessiva
- Ansiedade elevada em relação a todo o tipo de acontecimentos
- Sintomas físicos de longa duração
Nestas situações, é aconselhável dirigir-se ao seu médico de família para um exame profissional que confirme ou exclua a suspeita de depressão e lhe ofereça os recursos necessários.
Como explica a Dra. Ana Cebrián, médica de família do Centro de Saúde Casco Antiguo Cartagena (Múrcia) e coordenadora do grupo de doenças crónicas da Organização Mundial de Médicos de Família (WONCA), “as pessoas que vão a uma primeira consulta com o seu médico de família não costumam referir os sintomas clássicos da depressão, como a tendência para chorar ou a perda de entusiasmo. É muito comum falarem de insónias, falta de concentração, stress ou dores, entre outros sintomas”.
E, como salienta ainda esta profissional, “é comum virem consultar-nos por outra razão e, quando lhes perguntamos e indagamos sobre o seu estado emocional, chegamos a um diagnóstico de depressão”.
“Abordar a situação o mais rapidamente possível é a melhor opção”
Dr.ª Ana Cebrián
Abordar a situação o mais rapidamente possível é a melhor opção. Segundo a Dr.ª Cebrián, “um grande número de pessoas demora muito tempo a procurar ajuda médica, o que, juntamente com a grande variedade de sintomas, para além dos sintomas clássicos da depressão, atrasa o diagnóstico”.
Em caso de dúvida, é preferível procurar ajuda profissional, pois a conversa com o seu médico é terapêutica por si só, falar e expressar o que se sente é essencial.
Entre os critérios mais importantes para o diagnóstico da depressão estão a intensidade e a duração dos sintomas, bem como o facto de causarem desconforto e sofrimento, afetando negativamente o desenvolvimento das atividades diárias, como referem os especialistas.
O estigma, o inimigo na procura de ajuda profissional
Os profissionais de saúde têm a noção clara de que ainda existe um grande número de casos de depressão não diagnosticados, em parte porque o estigma social e o estigma imposto a quem sofre de depressão são um fator dissuasor da procura de ajuda médica.
Ainda existem atualmente falsos mitos e crenças que se centram na culpa ou na fraqueza de carácter de quem sofre de depressão, o que dificulta o acesso ao sistema de saúde. É por isso que é fundamental normalizar as doenças mentais como a depressão e que o ambiente esteja consciente e informado para oferecer ajuda e incentivar as pessoas a procurá-la.
Para a Dr.ª Cebrián, “em muitos casos, é difícil aceitar o diagnóstico, o que é comum em doenças psiquiátricas como a depressão. Há pouco conhecimento da doença e, quando existe, ainda carrega um estigma e, portanto, uma conotação negativa”.
Nem tudo é depressão – não, não é a reação emocional negativa a certos acontecimentos stressantes da vida como o luto, uma separação, a perda de emprego…, que geralmente não requerem tratamento – nem todas as depressões são bem detetadas.
Por isso, especialistas como a Dr.ª Cebrián insistem na importância da educação e da formação em saúde mental, tanto para a população em geral como para os profissionais de saúde, para que todos saibamos que a depressão é uma doença, que conheçamos a sua variedade de sintomas e saibamos identificá-los – afetivos, cognitivos e físicos – que existe tratamento e que #Sairdadepressao é possível. Para isso, ir ao médico é um dos primeiros passos, não se esqueça!
1 Balluerka Lasa, N., Gómez Benito, J., Hidalgo Montesinos, M. D., Gorostiaga Manterola, A., Espada Sánchez, J. P., Padilla García, J.
L., Dr. Santed Germán, M. A. (2020). As consequências psicológicas da COVID-19 e do confinamento: relatório de investigação.
Serviço de Publicações da Universidade do País Basco.
2 Centro de Investigações Sociológicas (CIS) (2021). Inquérito sobre a saúde mental dos espanhóis durante a pandemia COVID-19.
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