A recorrência ou o agravamento dos sintomas após um período de melhoria é muito frequente na depressão. Chama-se a isto uma recaída. Se sentir que perdeu o interesse pelas coisas e atividades de que gosta, se se isolar socialmente ou se se sentir extremamente cansado e com falta de energia, pode estar a sofrer uma recaída da depressão. E não, não tem de começar tudo de novo porque sabe o que está a enfrentar e tem muitos recursos para o ajudar a ultrapassar a situação.
Embora possa pensar que é frustrante no início, não deve perder a confiança. Como sabe, a depressão é uma doença e as recaídas podem fazer parte dela. A culpa não é sua e não se trata de uma situação excecional. A realidade é que metade das pessoas terá uma recaída de um episódio depressivo em algum momento das suas vidas[i].
Embora não se possa garantir que um episódio depressivo não se repita, é possível tomar medidas para cuidar de si próprio, procurar sinais precoces de recaída e estabelecer um plano específico para lidar com situações difíceis que possam surgir.
Medidas para reduzir o risco de recaída
Há uma série de diretrizes que não deve perder de vista:
I) Em primeiro lugar, é importante seguir o plano de tratamento acordado com o seu médico.
II) Prestar atenção aos sintomas residuais da depressão. Muitas vezes, apesar da melhoria, muitas pessoas continuam a ter os chamados sintomas residuais, como os sintomas cognitivos residuais: dificuldades de atenção, concentração, memória e tomada de decisões que dificultam a recuperação total da doença e aumentam o risco de recaída.
III) Deve também estar consciente dos sinais de alerta precoce para poder atuar com antecedência. Este exercício é uma oportunidade para assumir o controlo da sua própria saúde. Pode ser útil pedir ajuda às pessoas que lhe são próximas e aos familiares; muitas vezes, eles apercebem-se de alterações em nós antes de nós próprios as notarmos. É importante recordar como era a “sua” depressão, porque os “seus” sinais de alerta podem ser especiais ou diferentes dos de outras pessoas. Depois, pense no que estava a acontecer na sua vida quando começou a notar essas mudanças. Isto ajudá-lo-á a perceber quando e onde é que os seus sinais de alerta começam a aparecer. Por exemplo, aparecem depois de estudar ou trabalhar muito, ou depois de um conflito familiar? Estas situações são designadas por “fatores desencadeantes”. Cada pessoa pode ter os seus próprios fatores desencadeantes, mas existem alguns muito comuns.
Fatores desencadeantes comuns da depressão:
- Dormir pouco e/ou mal (sono não reparador).
- Perda ou tristeza.
- Ansiedade.
- Conflitos entre ou com pessoas próximas.
- Situações desagradáveis, especialmente se implicarem danos na autoestima (por exemplo, fracasso, desilusão, críticas, etc.).
- Circunstâncias stressantes (trabalho, estudos, mudança de casa, acontecimentos familiares, problemas financeiros, etc.).
- Consumo de álcool, de substâncias ou de medicamentos não prescritos.
- Alterações comportamentais ou hormonais.
- Problemas de saúde ou outras preocupações.
- Abandono do plano de tratamento.
O que faço agora?
O primeiro passo para recuperar de uma recaída é aceitar a situação, o que lhe permitirá pôr em prática recursos e medidas para a ultrapassar, em conjunto com o seu médico, sempre que necessário.
Uma vez detetados os sinais de alerta, é altura de pensar em como lidar com eles. Para o fazer, pode ter em conta
- Estratégias que tenham funcionado no passado e outras que sejam adequadas às circunstâncias atuais. Por exemplo, pode suspender um processo de decisão, dedicar tempo a atividades particularmente relaxantes ou agradáveis ou procurar a ajuda de uma pessoa de confiança.
- Pode tirar partido das recomendações que já possui para lidar com situações especiais. Mas, se não tiver a certeza de que consegue pôr em prática as suas estratégias para lidar com a situação, deve procurar ajuda profissional. É sempre melhor pedir ajuda mais cedo do que mais tarde. Fale com o seu médico.
Medidas de autocuidado que o podem ajudar
- Procure apoio (família, amigos, grupos de envolvimento social, etc.) e não tenha medo de reconhecer que precisa dele. Não se isole.
- Mantenha os seus hábitos e rotinas saudáveis – sono, alimentação, horários, cuidados pessoais, exercício físico, etc. -. Se não os praticou até agora, é uma boa altura para começar.
- Evite o álcool e outras substâncias tóxicas, bem como medicamentos fora das diretrizes prescritas.
- Seja compreensivo consigo próprio. Tente reparar, apreciar e exprimir as suas emoções, especialmente os sentimentos negativos; só assim poderá regulá-los. Pode ser útil manter um diário dos seus sentimentos, onde pode escrever as coisas positivas que lhe acontecem.
- Mantenha-se concentrado no presente. Evite criar possibilidades negativas para o futuro, bem como culpas por ações passadas.
- Estabeleça objetivos realistas, adequados à situação atual. Não confunda a realidade com os seus desejos ou fantasias. Evitar tomar decisões importantes para a vida em tempos de crise.
- Aceite a incerteza como parte da vida. A adaptação à mudança é a melhor ferramenta de sobrevivência.
- Participe em atividades que o façam sentir melhor, incluindo atividades de relaxamento, por exemplo, ioga, respiração, relaxamento muscular progressivo, etc. Além disso, a meditação demonstrou ser eficaz na prevenção de recaídas, com resultados positivos duradouros[ii], além de o ajudar a adquirir estratégias valiosas para reduzir a conversa interna negativa, controlar os pensamentos e manter hábitos de vida positivos para evitar recaídas.
As recaídas não têm de acontecer, mas se acontecerem, não deixe que o medo tome conta de si. Já ultrapassou a depressão uma vez e pode fazê-lo novamente. A recuperação é possível, tenha sempre isso em mente.
[i] Burscua S, Iacono W. Clin Psychol Rev 2007; (8): 959-985.
[ii] Kuyken et al., 2015.
Lundbeck Portugal
Quinta da Fonte | Rua Quinta da Fonte
Ed. Q34 Fórum, Piso 1, fração F
2770-192 | Paço de Arcos
NIF: 503573922
LUP202502030